Jonas acordou com aquela sensação de estar a ser observado, a sensação que a presa sente quando um predador ronda as cercanias cheio de fome. A sensação de terror assolava o seu espírito, o medo do que se escondia para lá das trevas, o medo que lhe tolhia os sentidos, os movimentos. Queria gritar e não saía nenhum som da sua boca escancarada, queria fugir e estava imobilizado, a adrenalina no máximo, o coração a saltar-lhe a boca, a fera a aproximar-se, o terror imenso.
Com um grunhido que lhe soou a um berro na noite Jonas conseguiu abrir os olhos.
Jonas viu aqueles grandes olhos verdes como lagos de esmeralda que o fixava com ansiedade. Atrás dos olhos estava uma cara de anjo, pelo menos foi o que pareceu, uma cara bonita, alva, envolvida numa cabeleira negra cortado curto. Era a rapariga mais bela que Jonas jamais tinha visto.
- Tem estado aqui já há umas boas semanas! Trouxeram-no para cá depois de o terem encontrado!
- Encontrado? Não entendo!
- Deitado á beira mar, meio afogado e sempre que acordava tinha autênticas crises de loucura, tínhamos de o sedar! Lembra-se de alguma coisa? É capaz de me dizer o seu nome?
- Meu nome é....! Meu nome é...! Jonas toma consciência que perdeu tudo, o nome, a identidade, a vida. O seu coração começou a acelerar, a ansiedade a aumentar, o monitor a apitar.
- Tenha calma! Disse a rapariga com voz doce. É um estado passageiro, é natural uma certa desorientação.
Jonas respirava ofegante, o ritmo a baixar, o coração a baixar o ritmo, começou a avaliar a situação.
- A polícia já tem os seus dados e não conseguiu nada. Ninguém procura ninguém com as suas características. Está a ser um mistério!
- E você gosta de homens misteriosos? Pergunta Jonas com uma gargalhada. Pelo menos não perdi a parvoeira inata!
A rapariga corou ligeiramente e nada disse. Continuou a sua tarefa de arrumar equipamento médico.
- Ana!
- Prazer em conhecê-la Ana! E obrigado por ter tratado de mim!
- Foi apenas a minha obrigação! Retorquiu a rapariga rapidamente, desviando o olhar. O raio do homem olhava fixamente com um olhar meio louco e penetrante. Ana sentia que aquele olhar lhe perscrutava os pensamentos mais íntimos.
- O seu sorriso não era obrigação de serviço. Era um sorriso de pessoa que se importa e é isso que agradeço.
- Ainda falta algum tempo para o almoço, quer comer alguma coisa? O médico deve estar a chegar.
- Eu espero! Resmunga Jonas virando-se de costas.
A rapariga saiu do quarto e dirigiu-se para a sua mesa, escrever o relatório e terminar algumas tarefas e rotinas.
João nunca mais tinha recuperado daquele maldito almoço onde perdeu a mulher, a namorada e quase a vida. Estava em decadência, sabia-o e não conseguia evitar. O próprio trabalho começava a ser um inferno, encarar diariamente, trabalhar diariamente com aquela que tinha amado, que desejava loucamente transformava a sua vida num inferno.
João olhava para Ana e as suas memórias voavam, cruzavam o céu deixando rastos de fogo que lhe incendiava a alma, o leve cheiro dela chega-lhe ás narinas carregando com ele todos os sabores de noites passadas juntos. Ela tinha-se afastado.
João olha aqueles lindos olhos verdes, carregados de fúria e perdeu-se.
De imediato o monitor de sinais vitais começa a ressoar.
Jonas sentiu uma pancada brutal na cabeça e nunca percebeu o que lhe tinha acontecido, só queria ir á casa de banho, a sua habitual reserva tinha-lhe impedido de chamar a enfermeira, tentou e desfaleceu.
A mancha no tecto branco lá estava, ele via-a numa névoa vermelha. Algo estava errado, estendia a mão e nada sentia, a visão parecia-lhe olhava por meio de um tubo de cartão negro, as cores a ficarem sépia, a respiração cada vez mais ofegante, o mal estar a invadir-lhe o corpo. Um mal estar generalizado, parava-lhe o corpo, queria vomitar e nada saía. Estava fraco e fechou os olhos e acordou encerrado numa cúpula toda negra, a ausência total de luz, de som, de cheiros, de tudo o que fossem sentidos, não sentia o corpo, sentia apenas que não respirava, afogava-se no nada, abria a boca e saíam golfadas de nada, começou a sufocar, começou a morrer lentamente, escorregando para o nada até que a própria escuridão se apagou.
- Que aconteceu? Pergunta o médico olhando para aquela cena caótica, o corpo de João, no chão, enrodilhado e sangrando abundantemente da cabeça.
- Ele atacou-me! Grita Ana com um leve tom de histeria na voz. Está totalmente descontrolado!
Sem comentários:
Enviar um comentário
Nobita escreveu: