terça-feira, 11 de outubro de 2016

Ouvindo música

Ouvindo musica, sonhando
Tento mas não consigo
Choro mas não tenho alivio
A merda invade o meu espirito
Cascatas de merda castanha
Fétida, mal cheirosa
Choro lagrimas de fel
Nem sei como consigo
Viver e não morrer
Dói
Pensar, sonhar
Lágrimas arrulhantes que teimam
Em cair
Olho a musica que se ouve ao longe
Sinto a solidão, o deserto
O meu espirito rola com as pedras
De um rio
Aguas barrentas numa corrida
Sem fim
Calhaus rolados, pelo tempo
Meu espirito soluça
Afogo-me
Morro
Hoje partiria sem saudade


10 de Outubro de 2016

Nota do autor: depois levantei-me com olhos húmido e fui jantar como se nada tratasse

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

O buraco negro

Os dois encontravam-se deitados, arfando, suados, olhando o tecto, vendo o branco sujo do tecto onde se notavam os riscos de uma pintura recente e ás pressas.
- Que te aconteceu? Pareceu-me que de repente te apagaste, perdeste o interesse!
Ele voltou-se para ela, olhou-a nos olhos e beijou-a ternamente, ficando em cima dela. Continuou a beijá-la, devagar, beijos de carinho, de paixão, beijos de quem quer.
- Que te aconteceu! Insiste ela.
- Apenas a minha cabeça, apenas eu. Tenho sempre os meus fantasmas á minha espreita, emboscados. Atacam-me quando menos espero.
- Devem ser uns fantasmas muito importantes para te distraírem dessa maneira!
- Lembras-te daquela história do louco que conversava com um atrasado mental e descrevia-lhe as suas visões? Umas palermices sobre buracos negros?
- Sim, lembro-me dessas palermices e apenas fico ofendida, no mínimo fico ofendida por ter sido trocada por palermices de um louco!
- Não te troquei, apenas fui distraído! Diz sorrindo.
- E que estás agora a fazer em cima de mim além de me pesares? Essa barriga já pesa se não reparaste ainda!
- Estou apenas a querer demonstrar-te que além de ser uma besta também gosto de ti e que o facto de me ter distraído não significa que não te queira
- Vai pentear macacos! Diz ela levantando-se e dirigindo-se á casa de banho onde se trancou com um bater de porta demonstrativo da sua boa disposição. 

Luis ficou deitado olhando as pinceladas no tecto descobrindo um ponto negro naquela brancura, uma caca de mosca provavelmente. A sua mente voou novamente para a história do louco sobre os buracos negros, a sua descrição, a sua explicação. Luis não tinha estudos nem conhecimentos suficientes para teorizar sobre física e matemática, tinha apenas a sua imaginação, gostava de "ver" os fenómenos. E não gostava de lacunas. A grande lacuna da matéria super concentrada num ponto de massa infinita numa espiral sem fim. Não tinha lógica, se fosse assim bastaria um simples buraco negro para no fim absorver todo o universo e aí ficar confinado para toda a eternidade. A explicação da mudança de fase e reaparecimento noutro ponto do espaço tempo como novo universo era uma tentação filosófica, mas como? Luis pensava e já não tinha sentidos, todo o seu ser estava mergulhado na questão. Tinha duas hipóteses, uma deles muito coincidente com a filosofia judaico cristã outra mais realista.

A primeira hipótese era simples, um simples buraco negro absorvia todo o universo, concentrando-o num só ponto até o Verbo acontecer e faça-se luz acontecer e o universo renascer, criando-se em sete dias de espaço tempo relativista. 

A segunda hipótese era mais engraçada, baseava-se na assimetria, na pequena falha, na pequena imperfeição. Nem ia contra a filosofia religiosa pois perfeito só o Criador. A hipótese tinha sido "vista" num estalar dos dedos do empregado do bar que lhes tinha servido as bebidas antes de terem subido para o quarto onde se tinham amado. Ele tinha visto o movimento em câmara lenta, os dedos a pressionarem-se um contra o outro até que as tensões fizeram desencadear as assimetrias e os dedos escorregarem um pelo outro dando um estalo. Esse estalo era a mudança de fase do ar em volta vibrando, provocando o som. A matéria super condensada chegava um ponto em que a mais pequena assimetria a faria escorregar dando um estalo no tempo e aparecendo como um novo Big Bang nos confins do espaço-tempo começando um novo universo, uma nova vida.

Luis, entusiasmado com a sua nova descoberta salta todo nu e corre para a casa de banho onde ela acaba de sair do banho escorrendo água. A cabeça de Luís prega-lhe a partida do costume, com aquela visão acaba por tudo esquecer. Pega nela ao pela cintura, levanta-a e grita.
- Já sei, mas já me esqueci. Só sei que te quero! E sem cerimónia, surdo aos seus protestos leva-a para a cama e penetra-a como não fazia há muitos anos, ama-a loucamente arrancando-lhe um longo e electrizante orgasmo.

- Que te aconteceu? Tomaste viagra enquanto eu tomava banho?
- Yeap, tomei um viagra para o espírito!
- Lá vens tu com mais uma treta! Por que não tens juízo?
- Minha querida, se tivesse juízo já tinha morrido há muito tempo! Nunca estive tão vivo como agora. Descobri a origem do universo e fiz amor contigo! Que mais um desmiolado pode querer?
- Juízo não seria má ideia! Diz ela sorrindo e beijando-o enquanto ele arfa deitado de costas olhando para o tecto branco e a caca de mosca brilhando naquela brancura.
- Que pensará uma mosca quando está de cabeça para baixo a defecar? Pergunta Luís com ar de quem vai voar outra vez.
- És mesmo um camelo! Agora trocaste-me por uma mosca! Muito lisonjeiro da tua parte! Usas-me e deitas fora!
- Hã????
- És uma besta!!!! Grita ela.
- Sim! Sou uma besta! Diz Luís de olhos arregalados voando incessantemente, imaginando-se uma mosca a importunar tudo e todos, rindo-se como uma criança.

Apenas

Sentado, sonho, penso
Uma vida que discorre
Um sentimento que desponta
Sinto o amargo da existência 
Do nada
Olho e vejo
O vazio do ontem
A escuridão do amanhã 
Oiço música, oiço sentimentos 
Emoções de dor, de paixão 
Sentado soluço a vida
Que não tive
Que tive
Que terei
Espinhos cravados nos pés
Calcorreio caminhos
Meus destinos
Corro
Criança 
Estou sentado e choro
O nada, a escuridão 
Sinto-me a morrer, lentamente
Um sorriso que desmaia
Branco, lívido 
Dentes arreganhados num sorriso
Ela que me chama
Sentado olho, vejo, escuto
O som de um coração que bate
O meu
Morto para a vida
Vivo para a morte
Grita a plenos pulmões 
Sentado choro
A solidão, a dor
De estar
De apenas estar, aqui
Só 
Sentado olho e vejo
O nada
Levanto-me e caminho
Dou o passo e lanço-me
No vazio
Onde finalmente me vejo
Só 


10/10/2016