sexta-feira, 25 de dezembro de 2009

A Piscina

Estou na piscina e fecho os olhos
A imagem é vermelho sangue como nunca tinha visto
Vermes retorcem-se no vermelho dos meus olhos
A água entra pelo meu nariz e afogo-me
Os vermes deliciam-se

Ouvi agora a frase: te amo… e dei um tiro na cabeça….

sábado, 19 de dezembro de 2009

CHAMARAM-NA DE FÉNIX

As labaredas do deserto toldaram-lhe o espírito

Pobre ave que acreditou na imortalidade

Desesperada lutou num inferno negro

Acabando despedaçada pelas suas ilusões


M/T Genmar Conqueror

13 de Setembro de 2004

A MORTE DE UM DESESPERADO


Na estrada da vida, cinzenta como a minha alma
Tentando lutar contra os meus fantasmas
Velhos inimigos, velhas pelejas
Sou então esmagado
Pela indiferença do destino



M/T Genmar Conqueror
12 de Setembro de 2004

quarta-feira, 16 de dezembro de 2009

Sentado olhava....

Sentado olhava
Alma cinzenta e destroçada
Mil pelejas cicatrizavam purulentas
Olhar o nada, vazio e perdido
Toda uma vida discorria
Um episódio, um sorriso, outro, um esgar
Olhava o futuro
Sem alento
Cansado
Tremendo
Levanta-se pesadamente
O peso da vida numa carcaça velha
Ossos calcificados rangem o seu protesto
A dor volta
Lenta e insidiosa
Um passo, uma nova conquista
O sol há muito se pôs
Sombras negras envolvem a escuridão
A noite aproxima-se enfim
Sem estrelas, sem brilho
Outro passo
E o vento sopra numa aragem
Gélida, cortante
Abrindo chagas na alma
Dorida
Outro passo e olha o céu
Um brilho tenta furar a escuridão
Luta com as trevas
Ele reconhece a deusa
De face serena e pálida
De sorriso quente e terno
Sorri, sente-se criança outra vez
Embalado por aquela luz
Fria e cinza
De uma lua árida
Que o embala num sono profundo


Sines, 13 de Dezembro de 2009

quinta-feira, 11 de junho de 2009

Só ...

Um pequeno quarto, cama coberta de roupa desalinhada e almofada toda amachucada, apenas uma pequena mesa-de-cabeceira com alguns artigo por lá atirados.
Estava escuro e eu, sentado, olhava para a janela vendo a escuridão a passar perante os meus olhos, sentia um aperto enorme, sentia a dor da solidão.
Sonhava que me afogava, braços estendidos em direcção á superfície, tábuas a que me agarrava mas que não me impediam de me afogar na maior das solidões.
E o tempo passava, horas, dias, meses e nada conseguia atenuar a dor.
Sinto-me cada vez mais só
Sei que morrerei um dia. Se calhar a dor morrerá aí, se calhar terei o sossego que mereço.
Sentado na cama suspiro e lembro-me, gemo de saudade a solidão volta a avassalar, tremenda e crua….
Suspiro e deito-me, fecho o s olhos e ela olha para mim, fazendo-me sentir só.

segunda-feira, 8 de junho de 2009

O espelho......

Olhava aquele rosto marcado que se espelhava á minha frente, reconhecia nele uma certa vida que se tinha esmorecido ao longo das amarguras.
Olhos cavos e escuros assim como eram profundas e negras as olheiras de muitas noites mal dormidas onde fantasmas se riam de uma lenta fuga da realidade cada vez mais escura e insípida.
Estendia a mão tentando tocar a superfície espelhada, o dedo a aflorar o frio do outro lado, a mão a atravessar sem dificuldade
Num impulso salta para o outro lado sentindo de imediato um frio de apertar a alma, fundo escuro de um queda eterna, um sufocante aperto no peito e mergulhou no espelho da sua perdição desaparecendo nas águas escuros do lago que reflectiam o azul do céu onde se podia notar as brancas nuvens que passavam sem parar impulsionadas pelo bater de asas das aves.
Jazia lá em baixo de olhos arregalados na lama do fundo enterrando-se lentamente para gáudio de milhões de seres.

terça-feira, 17 de março de 2009

Excertos....

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Jonas abraçava a sua mulher tentando confortá-la, perspectivava-se mais uma longa separação e ele já sofria com isso. Memórias de longas noites solitárias, fechado num camarote minúsculo, sem condições, sonhando na escuridão negra da noite, sonhando com a sua mulher, como a amaria… memórias de amargas lágrimas que lhe teimavam em cair, cada vez que recebia uma carta e encontrava palavras inteira esborratadas de lágrimas derramadas por quem também sofria com a solidão. Jonas abraçando a sua mulher olhou para o parque onde seu filho brincava inocentemente. Estava bonito o miúdo, roliço e pachola. Jonas beijou carinhosamente sua mulher e suspirou, tinha que ir… o bem-estar deles era-lhe muito importante.
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quinta-feira, 5 de março de 2009

Um dia....

Era apenas mais um dia. Tinha nascido cinzento, chuvoso mas de temperatura amena, pelo menos era assim que ele o sentia. Tinha acordado meio estremunhado o que não era normal, se calhar falta de descanso. Tinha-se dirigido á retrete para urinar e não o conseguiu, estava preso. Suspirou e sentou-se na sanita abrindo a torneira do bidé de maneira a que se ouvisse o silvo da água a correr. Tentava descontrair-se mas não conseguia, o gato tinha entretanto ouvido os ruídos e não parava de arranhar a porta, adorava beber água do bidé o tarado do felino. E a urina lá escorreu lentamente acabando por esvaziar a bexiga.
Devagar dirigiu-se á cozinha e começou a preparar o chá tropeçando agora em dois felinos ansiosos pela sua refeição matinal, não paravam de se cruzar com as pernas dele. Com uma risada, fez uma festa a um deles que se escapulia entretanto e foi preparar a refeição dos bichanos para ver se eles o deixavam em paz. A água fervia, o pacote de chá estava na mão e só faltava a chávena. Antigamente ainda tinha uma chávena preferida mas agora até a lata usada das salsichas serviria para beber o chá.
Com uma chávena fumegante dirigiu-se para a varanda vendo as pessoas a passar na rua, agasalhadas por um frio que ele não sentia, olhando de um modo espantado para aquela figura patética em cuecas numa varanda a beber chá.
Apesar de uma noite de sono sentia o cansaço, apertava-lhe o pescoço, sentia constantemente uma garra a apertar-lhe o pescoço como se quisesse sufoca-lo, respirar ás vezes era difícil, já, muitas vezes, tinha de ser um acto voluntário e não natural. O cansaço era enorme.
Sentou-se numa cadeira de descanso, daquelas que normalmente vêm nos conveses dos navios de passageiros, pelo menos nos antigos, sentou-se e começou a ler a revista que tinha na mão achando estranhas as mexeriquices que ia lendo, era um dejá vu recorrente e num repente foi ver a data, a revista já tinha uns 8 meses, não admirava que ele já tivesse ouvido falar dessas mexeriquices, atirou a revista para o lado suspirando. O pescoço apertava cada vez mais e a temperatura começava a incomodar, estava quente naquela madrugada na varanda.
Deitando-se na cadeira fechou os olhos, um cansaço enorme se apossou daquele corpo, um sono terrível começava a apertar o cerco.
- Vou dormir uns cinco minutos, estou um bocado cansado, bolas, não preciso de acordar tão cedo…
O corpo já rígido do frio foi encontrado pela mulher duas horas mais tarde, tinha os dois gatos aninhados no seu colo tentando aproveitar o máximo de calor que o cadáver pudesse dar.

sábado, 28 de fevereiro de 2009

Carta de despedida.

A quem possa interessar.
Vou dar um tiro na cabeça mas quero deixar aqui a explicação pois não quero ser considerado louco nem cobarde mas sim uma pessoa que está cansada e anseia pelo descanso que qualquer ser humano tem direito.
Eu explico:
Nasci há 450 anos, tendo tido uma infância e juventude normal ou o mais parecido ou integrado no que era padrão naqueles tempos e durante esses tempos nunca me apercebi da pequena diferença com que eu tinha nascido.
Essa diferença só se tornou obvia quando com sessenta e muitos anos comecei a comparar-me com o meu amor de vida, a minha mulher de quem eu tinha tido 4 filhos, já adultos nessa altura. Num jantar de aniversário da minha mulher um amigo de um dos meus filhos perguntou-me onde estava o marido da aniversariante, tinha-me tomado por um dos irmãos.
Após a morte da minha mulher e a enorme dor que se apossou do meu coração passei a viver uma solidão enorme, nada substituía a perda que tinha tido.
Os netos começaram a crescer ao mesmo tempo que as memórias se atenuavam e então conheci uma mulher, ainda jovem, de quem me apaixonei outra vez abrindo assim novos jardins na minha alma. A paixão do momento transformou-se num novo amor que frutificou em novos filhos que, ironia do destino, tinham a idade dos meus bisnetos.
E começo a ter desgostos atrás de desgostos, os meus filhos começaram a morrer, tinham chegado á idade normal das pessoas terminarem os seus dias em paz. Enterrei um neto que tinha partido devido a uma doença terminal e os outros estavam a envelhecer.
Eu já era um fenómeno de família que, por acordo tácito, não faziam muita propaganda e até ajudavam a ultrapassar as barreiras burocráticas. Tinha tido uma acusação de burla quando tinha ido reclamar a minha pensão com o meu aspecto de 40 anos e a idade no BI dizia 120.
E começo a assistir ao definhar do meu segundo amor até á sua morte. Pessoa doce que me acompanhou e compreendeu sempre, amparando-me carregando comigo a minha cruz.
Durante estes anos todos passei a ser um observador da história do mundo e das poucas-vergonhas que os políticos faziam apara reescrever a história, retorcendo os factos, eu como testemunha no tempo ficava cada vez mais enojado com uma sociedade cada vez mais poder e frívola.
Nova revoada de desgostos em série. A morte da minha segunda mulher, dos meus netos, os meus filhos do segundo casamento começava a envelhecer tendo um entretanto falecido de uma morte prematura que a medicina não conseguiu resolver.
Começo a viver o dia-a-dia, tenho aventuras com mulheres de ocasião, refugio-me na solidão, tenho medo de amar e de ter descendentes. Já nem acompanho o desenvolvimento da minha família, não os quero conhecer, vivo de um fundo de uma fundação obscura criada para o meu sustento.
Mas a vida é muito forte e um dia, mais uma vez, uma mulher se travessa no meu caminha. Uma das mulheres de ocasião, de quem eu me servi repetidamente, entra na minha vida. Eu era a sua tábua de salvação e eu não tive coragem de a afastar, a ela e ao seu pequeno filho que me olhava com uns grande olhos negros. Amparei-a e desse amparo nasceu um carinho que voltou a despontar em amor. Cada filho novo que nascia dessa relação eu chorava de dor e de amor. Filhos que eu iria criar e enterrar. Doce mulher que quis viver e trazia-me o purgatório outra vez.
E mais uma vez perdi o meu amor e a acumulação de dor foi de tal ordem que fui internado durante 6 meses num estado mental de demência completa.
Recuperei, voltei a viver. A vida já só se limitava a ler, escrever e tratar de uma ou outra actividade normalmente relacionada com o coleccionismo. Divertia-me alguma programação pois mantinha o meu cérebro activo e até era bastante cativante ser o guru de linguagens de programação primitivas nos fóruns de informática. A minha biblioteca já era imensa, os meus registos enormes. O meu portátil estava sempre ligado a um servidor de vários terabystes de disco, imagens e documentos.
E nesse inferno digital eu visitava os meus, nunca ia ao cemitério visitar pedras nuas e áridas, visitava-os nos milhares de imagens dos meus extensos bancos digitais e assim sem dar por isso, quando passava longas horas no computador e nos fóruns acabei por cair numa cilada e conheci outro ser interessante, uma mulher que eu nunca tinha visto igual, com um conhecimento de informática brutal mas mais do que isso um raciocínio tão acutilante como uma espada de samurai. As longas conversas levaram a um encontro na vida real. Era um patinho feio do género que só seria um cisne no coração de um apaixonado. Que foi o que aconteceu recomeçando a saga da dor.
Neste momento estou só outra vez, enterrei já 4 mulheres, dezenas de filhos, centenas de netos e estou desesperado, não quero ninguém na minha vida, quero estar só. Deixei de me arranjar e tomar banho, não corto o cabelo nem faço a barba e mesmo assim os olhos doces de uma assistente social começaram a pôr o meu coração em polvorosa, e, foi então que tomei a decisão desta minha atitude.
Agora só me resta premir o gatilho….
Quando lerem esta carta já estarei morto e no envelope ao lado estão as instruções e códigos de acesso a toda uma vida.
Adeus….
Jimmy

Solidão...


Sentado á beira-mar olho o sol a pôr-se assim como a minha vida se esgota, devagar e em cores de fogo caindo numa escuridão brutal.
Minha vida corre fluída e cada vez mais rápida no meios de sinapses loucas do meu pensamento. A tristeza invade-me e ganha volume, só vejo a escuridão dos dias.
Suspiro... estou cansado, estou louco... quero dormir.
A dor surda dá o seu sinal ao qual lhe respondo com um sorriso cor de cinza. Ela vem doce e persistente, instala-se e fica.
Olho o sol que não passa agora de um ponto de fogo no horizonte fazendo-me lembrar a agulha de dor que se me espeta no coração, dor de uma vida de enganos e ilusões, batalhas perdidas e vitórias pírricas de uma guerra perdida de antemão.
Inspiro fortemente o ar que me queima os pulmões, cheios de restos de uma vida de cheiros e aromas que me invadem o cérebro fazendo-me soluçar uma saudade negra, dor infernal que me aperta ainda mais um coração que já palpita os últimos segundos.
Boca arrepanhada num rictus de uma dor que não existe e é profunda, o ar a começar a faltar, o arfar de quem vai morrer.
O horizonte é já uma linha negra dividindo o negrume de um oceano de vida á escuridão de um céu sem estrelas apenas pejado de corpos mortos.
Balbucio um sorriso o ar cada vez mais escasso, morro e suspiro. Suspiros de um alívio que me queima a consciência.
Fecho os olhos e adormeço. Sono sem sonhos, de nada para o nada...
.....
- Mãe! Aquele homem está a dormir no murinho, pode cair ao mar...! Não é mãe??
- É sim filha! Existem pessoas que não têm lugar algum para viver.....