terça-feira, 26 de agosto de 2008

O sonho...

Dormia um sono agitado quando se abriu a porta do meu pesadelo.
E a vida parou….
Acordei aterrorizado, aquilo não era eu…..

Sorriso da morte...

Dormia placidamente com os meus fantasmas, sono irrequieto e cheio de dor, morte e angústia. Foi nos meus sonhos que aprendi que a angustia dói mais do que a própria morte, foi uma dor noites sem fim. Quando acordei com um som, barulho já conhecido de tantas noites, o meu filho dirigia-se para a minha cama para se deitar entre os pais, sentindo aquela segurança que só uma criança sente quando dorme no meio dos seus pais.
E esperei que o miúdo subisse á cama, foi em vão, ele não aparecia. Estremunhado levantei-me e olhei, no meio da escuridão iluminada pelo luar que entrava pela janela. Aos pés da cama estava um vulto de uma criança de cabeça baixa, dormindo de pé completamente imóvel. Ensonado cheguei-me ao fundo da cama e estendi-lhe a mão para o puxar…
E o mundo estoirou… a criança levanta a cabeça e não era o meu filho, era um vulto que cresceu desmesuradamente, a fácies sorrindo, um sorriso numa cara branca cinza, os olhos de um negro profundo e um esgar trocista enquanto crescia até ao canto superior da sala… o mundo estourou na minha cabeça e imediatamente ataquei o intruso que se esfumou á minha frente sempre sem deixar de sorrir um esgar de morte enquanto eu escoiceava o ar com murros inúteis.
Parado, de joelhos na cama arfava, coração quase a explodir, de punhos cerrados ainda gemia de terror e combate. Olhava em redor, procurava o meu inimigo, corri para o quarto dos meus filhos e ambos dormiam o sono de criança.
Deitei-me, estava tudo bem e …. passei o resto da noite a ver o sorriso trocista da morte, ainda hoje vejo esse sorriso que brinca comigo tal como uma criança travessa…

O caminho...

Chovia copiosamente. Era Inverno e estava frio, a escuridão da noite abraçava o mundo enquanto eu descia do comboio abandonado aquela luz crua de uma carruagem cheia de almas adormecidas ladeadas por bufos de ar tresloucado. Desci para a plataforma e encostei-me á parede exterior. O comboio recomeçou a sua marcha enquanto mantinha a minha posição, não queria ninguém atrás de mim, a loucura começava a subir.
Envolto no meu velho capote da marinha subia a rua evitando os pequenos riachos que se formavam com aquela chuva impiedosa. A água entranhava-se, ensopava-me o cabelo e escorria gélida costas abaixo.
Ansiava por chegar ao quiosque, aí tinha abrigo, queria fumar, estava cansado, estava desolado, a madrugada já tinha começado e logo teria que estar a pé, precisava daquele cigarro, o estômago, ás voltas, o ácido a corroer-me as entranhas. E a chuva não parava, miudinha e persistente, ensopando o meu velho capote tornando-o insuportavelmente pesado.
Parado, debaixo daquele parco abrigo puxo do meu maço de cigarros e uma lágrima de raiva caiu misturando com aquele pequeno dilúvio de chuva miudinha, os meus cigarros estavam ensopados, o maço meio cheio estava todo ensopado. Puxava-os um a um e só obtinha os filtros tal como se os decapitasse e deitava-os fora num misto de raiva e desânimo. Finalmente um cigarro em condições, o último, já com manchas de humidade que secariam mal o acendesse.
Aspirando sofregamente o fumo que me invadiu de uma falsa alegria, acabando com o meu sofrimento, acabando com a minha dor. Fumava aquele último cigarro ansiosamente, o meu último cigarro do mês, a chuva tinha acabado com o meu stock e já não tinha dinheiro para mais.
Finalmente cuspi o filtro que finalmente se tinha separado, até no fim o cigarro me tinha abandonado, deixando-me na maior solidão que alguma vez tinha experimentado e recomecei a caminhada enquanto que a chuva sadicamente aumentava de volume.
Rua escura e cheia de sombras projectadas por candeeiros meio escondidos no meio da arvores. As sombras dançavam danças macabras como que a me seduzir a bailar ao som da escuridão. Almas penadas que ali passavam e eu no meio da estrada caminhava tentando evitar algo que já nem eu sabia o quê, um passo atrás de outro e a caminhada ia-se fazendo aproximando-me do meu destino.
O último troço de rua, uma subida um pouco maior mas a dar alento por ser a derradeira, a luz dos candeeiros a espelharem-se na água recentemente depositada no negro alcatrão da rua, criando reflexos de prata que iluminavam o caminho, a chuva tinha finalmente parado fazendo com que apressasse o passo.
Entrei de mansinho, tentando não fazer barulho, e sem abrir a luz despi-me na sala onde dormia, olhando para a rua lá fora, vazia e negra, e abanei a cabeça, estava cansado. Puxei a cama debaixo do sofá e estendi-me.
Levei horas a adormecer acompanhado por todos os fantasmas que tinha visto na minha caminhada, eles continuaram atrás de mim no meu sonho, em todos os meus sonhos. E adormeci…..

quinta-feira, 7 de agosto de 2008

Fim...

Está a chegar ao fim um dia que me foi particularmente difícil de passar... são 23:31 de 7 de Agosto de 2008
Hiena Quesilenta

Dia de Passeio

Está um dia de sol, lindo a convidar a um passeio no meio da verdura de um parque em plena Primavera
Saio de casa, não podia perder essa oportunidade, são raros os dias bonitos de passeio, aliás são raros os dias que tenho.
Caminhando nas veredas paro. Ao longe um grupo de jovens mães brincam com os seus rebentos que arrulham de alegria. Parado continuo a olhar, sentindo a dor.
As mãos tremem-me sem controlo, agarro-as. Sento-me no banco e observo o brincar dos miúdos e noto que tenho uma perna a abanar e sentindo a dor a aumentar.
Respiro fundo e a ânsia invade o meu peito tirando-me o pouco ar que inspiro. Respiro fundo acabando por sentir o cheiro de relva fresca acabada de cortar, aquele cheiro característico que me transporta á minha meninice quando brincava no parque da minha terra.
Uma lágrima de saudade escorre cara abaixo e sou obrigado a agarrar as mãos que tremem como se tivessem vontade própria. A dor a subir de intensidade.
Respiro fundo e vejo o negro a invadir os meus olhos, nuvens negras de tempestade que vieram estragar este belo dia de primavera, dia de sol que não podia perder. Ar abafado que me custava a respirar, fazendo-me ofegar e arfar por um pedaço de vida.
Sonolento e cansado deito-me no banco, estava frio, estava só.
Soluço baixinho e adormeço…..

Sines, 7 de Agosto de 2008

O felino




Passeando incessantemente
Barras de aço que aprisionam
Olhos amarelos de medo e ódio
Rugindo em fúrias fugazes
Esmurrando o ar
Garras gastas de tanto andar
Deita-se no canto
Sua jaula fétida
Lambe suas feridas
Chora a sua sorte
Sonha o seu paraíso
Longínquas memórias
Mortas
Como o ar que respira
Suspira
Recomeça o passeio
Sem fim…

Sines, 7 de Agosto de 2008

VOU MUDAR

Apenas que vou mudar o estilo deste blogue... não sei porquê mas estou a ouvir o disco dos Pink Floyd The Dark Side of the Moon....