quinta-feira, 30 de dezembro de 2010

Extractos II

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- Desculpe-me minha cara, se não suporta a escuridão não me suporta a mim. Eu sou a escuridão, por onde passo tudo fica negro e acho que já lhe causei mal suficiente. A minha vida é negra! Exclama Jonas preparando-se para sair.
- Não me deixes só, eu posso trazer um pouco de luz à tua vida!
- Achas? Desculpa ser tão cruel, porque estavas a passear à noite com o teu miserável cão que tu tanto amavas e não estavas em casa a iluminar uma família? Se tens assim tanto brilho, tanta luz porque estás só? Desculpa-me minha querida por hoje para negrura chego eu!
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Em "Jonas o Louco" de Jimmy

terça-feira, 28 de dezembro de 2010

Extractos...

- Quando lhe perguntei ele começou a divagar quando reparei que estava a fazer um poema.
- Um poema? Ele escreve?
- Era mais ou menos assim:

Formaram-se nuvens no céu, nuvens de tempestade
Ouviram-se relâmpagos a brilhar no escuro da minha alma
Desmembrados corpos de paixões antigas ressurgiram
Ígneas lanças da desconfiança me atravessaram
Destruindo todo um firmamento de estrelas cadentes
Assim morreu a minha alma atormentada.

- E ele deu algum significado a esse poema?
- Sim! Chamou-lhe “Minha Vida Está…”! E nunca percebi porquê!

Em "Jonas o Louco" de Jimmy

sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Luzes

Ardia Marte no seu fulgor
demoinhava espiritos arrebatados
nadava num universo de cores fluidas
irmanava o desejo com o afecto
corcel louco de paixão
urrando e bramando sua fúria
louco, morria

descalço correndo
gritando
chorando
sua tristeza no fim
sentado olhava
lagrimas que corriam
esmagadoras
arrebatadores
coração ao pulos
vomitado em golfadas
de bílis
amarga
amarela
do ódio

as estrelas lá estavam
no céu
sem se mexer
imutáveis
um dia serei uma delas
até lá sou nada
espero e olho

a dor regressa
o esgar espreita sorridente
riso alvar
de nada

pequenas luzes brilham
no horizonte
pulam e dançam
luzinhas brilhantes
longe como as estrelas
caindo
de inútil mão estendida
de sorriso cinzento
de quem se afasta
levado pelo vento
pela maré
ao sabor do destino

O Natal

A cena passou-se na Beira, Moçambique.
Naquele tempo por imposição paternal íamos á missa do Galo no Natal, o que era uma chatice pois atrasava a abertura dos presentes e diga-se de passagem, também nunca fui muito de ir á missa.
Regressávamos a casa vindos da catedral da Beira, entrámos na rotunda do cinema S.Jorge, era noite de Natal, quando vimos, á esquerda, sentado num muro baixo um homem com a cabeça entre as mãos. Chorava desconsoladamente.
Nunca soube a razão e nunca me esqueci dessa cena. Todos os Natais lembro-me dela...
Hoje desejo que essa criatura tenha encontrado a paz que merece.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

O velho

a criança queda-se assustada
são nuvens negras de tempestade
sossega o velho
sentando-se e olhando
com desalento
observando a tormenta que se aproxima

a chuva já corre em rios
de miséria podre
juntando-se ás lágrimas do velho
cheiro pestilento de fezes
de carneiros assustados
trovões ribombando nos céus
iluminando a cara do velho

chora a vida que perdeu
pelo engano insidioso
pelos caminhos tortuosos
adocicados
da traição
o velho chora
a criança jaz morta a seus pés
inerte e fria
como a sua alma

cambaleia para o seu destino
trôpego e velho
desgastado
olhar insano
rugas de dor rugindo nas suas entranhas
tropeça nas pedras
de uma calçada imensa
caminho de um calvário
cruzes que carrega
com o coração cravejado de espinhos

pontas lacerantes
penetradas na carne
profunda
infectada
podre

o velho caminha
rumo ao azul
onde já nada brilha
frio
morto
mas sem o saber

sábado, 11 de dezembro de 2010

Sono

Estou com sono
cansado
turbilhões rodopiam
loucos
pensamentos insanos
apetece-me encostar a cabeça
numa pedra
macia
adormecer sem sonhos
sem mágoas
cansado
sem forças
os olhos a arder
de lágrimas teimosas
salgadas
ácidas
áridas de paixão
soltas de emoção

Pedra branca e fria
macia como um seio
fria como o seio
de uma Vénus de mármore
inerte e morta

Encolho-me e espero
O sorriso que não vem
a carícia ausente
os olhos fecham-se lânguidos
de desilusão

Estou com sono e a vida embala-me
Quero dormir e não me deixam
Pequenos fantasmas me assolam
mente desgarrada que não acredita
que se agarra
loucamente
ao cabo levado pela corrente
sobre as vagas que embalam
a um sono profundo

Estou com sono
Sentado olho sem ver
imagens e números
tela branca
macia e árida
com o seio de um estátua de mármore

Soluço, um simples soluço
E vejo o azul, frio
coberto de espuma
branca e fria
como o seio
de uma estátua de mármore.

Vino Veritas

Antes estivesse bêbado
assim a morte seria menos dolorosa
morte de uma vida
que não serviu para nada

morte que cheira a podre
de anos a feder
porcaria imensa

escondida, arrumada
no canto do caixão

Mas bêbado continuo a acreditar
que um dia a morte
me abra a sua boca
para aquele beijo
beijo de morte
doce
falso

bafo de álcool
pestilento
bílis vomitada
amarela
como fogo
que consome minhas entranhas

continuo a sorrir
nem bêbado nem morto
sorriso alvar
daquele meu amigo
que voltou a espreitar
meu espírito inquieto
que volta a cair
num turbilhão de ondas
vagas salgadas
da minha paixão
inútil....

Jimmy, 12 de Dezembro 2010