terça-feira, 17 de março de 2009

Excertos....

.................
Jonas abraçava a sua mulher tentando confortá-la, perspectivava-se mais uma longa separação e ele já sofria com isso. Memórias de longas noites solitárias, fechado num camarote minúsculo, sem condições, sonhando na escuridão negra da noite, sonhando com a sua mulher, como a amaria… memórias de amargas lágrimas que lhe teimavam em cair, cada vez que recebia uma carta e encontrava palavras inteira esborratadas de lágrimas derramadas por quem também sofria com a solidão. Jonas abraçando a sua mulher olhou para o parque onde seu filho brincava inocentemente. Estava bonito o miúdo, roliço e pachola. Jonas beijou carinhosamente sua mulher e suspirou, tinha que ir… o bem-estar deles era-lhe muito importante.
..............

quinta-feira, 5 de março de 2009

Um dia....

Era apenas mais um dia. Tinha nascido cinzento, chuvoso mas de temperatura amena, pelo menos era assim que ele o sentia. Tinha acordado meio estremunhado o que não era normal, se calhar falta de descanso. Tinha-se dirigido á retrete para urinar e não o conseguiu, estava preso. Suspirou e sentou-se na sanita abrindo a torneira do bidé de maneira a que se ouvisse o silvo da água a correr. Tentava descontrair-se mas não conseguia, o gato tinha entretanto ouvido os ruídos e não parava de arranhar a porta, adorava beber água do bidé o tarado do felino. E a urina lá escorreu lentamente acabando por esvaziar a bexiga.
Devagar dirigiu-se á cozinha e começou a preparar o chá tropeçando agora em dois felinos ansiosos pela sua refeição matinal, não paravam de se cruzar com as pernas dele. Com uma risada, fez uma festa a um deles que se escapulia entretanto e foi preparar a refeição dos bichanos para ver se eles o deixavam em paz. A água fervia, o pacote de chá estava na mão e só faltava a chávena. Antigamente ainda tinha uma chávena preferida mas agora até a lata usada das salsichas serviria para beber o chá.
Com uma chávena fumegante dirigiu-se para a varanda vendo as pessoas a passar na rua, agasalhadas por um frio que ele não sentia, olhando de um modo espantado para aquela figura patética em cuecas numa varanda a beber chá.
Apesar de uma noite de sono sentia o cansaço, apertava-lhe o pescoço, sentia constantemente uma garra a apertar-lhe o pescoço como se quisesse sufoca-lo, respirar ás vezes era difícil, já, muitas vezes, tinha de ser um acto voluntário e não natural. O cansaço era enorme.
Sentou-se numa cadeira de descanso, daquelas que normalmente vêm nos conveses dos navios de passageiros, pelo menos nos antigos, sentou-se e começou a ler a revista que tinha na mão achando estranhas as mexeriquices que ia lendo, era um dejá vu recorrente e num repente foi ver a data, a revista já tinha uns 8 meses, não admirava que ele já tivesse ouvido falar dessas mexeriquices, atirou a revista para o lado suspirando. O pescoço apertava cada vez mais e a temperatura começava a incomodar, estava quente naquela madrugada na varanda.
Deitando-se na cadeira fechou os olhos, um cansaço enorme se apossou daquele corpo, um sono terrível começava a apertar o cerco.
- Vou dormir uns cinco minutos, estou um bocado cansado, bolas, não preciso de acordar tão cedo…
O corpo já rígido do frio foi encontrado pela mulher duas horas mais tarde, tinha os dois gatos aninhados no seu colo tentando aproveitar o máximo de calor que o cadáver pudesse dar.