segunda-feira, 25 de novembro de 2013

A Espera

Estou aqui sentado á espera, á espera de chegar, á espera de que aconteça. Toda uma vida estive á espera. Fui realizando umas coisas, fazendo outras e seguindo muitas mais mas estive sempre á espera. 
O tempo passa, os acontecimentos queimam o tempo esmorecendo a esperança que tal como um naufrago se agarra á tábua e não se deixa afogar, o tempo passa no seu ritmo imutável.
Estou aqui sentado e a nostalgia começa a invadir o meu espírito, cobre com o seu manto cinzento de nuvens de tempestade que cada vez se aproxima mais. Faz-me lembrar as famosas "suladas" de Moçambique, aquelas tempestades tropicais do fim do dia que víamos nascer no horizonte, um manto negro que avançava até tudo cobrir. Quando caía a primeira trovoada o céu apenas desabava por cima de nós.
A minha tempestade já cobre mais de metade do céu, as sombra já se alongam, já só estou á espera da cascata que cairá sobre mim, inevitável.
Tento encontrar abrigo mas só encontro casas de adobe que estremecem com o vento que levanta, alguns tectos voam, corro mas já sem convicção, vou-me molhar só espero não ser levado na enxurrada.
Junto desesperadamente pedaços de pedra e adobe, tentanto fortalecer o meu abrigo, as minhas preciosidades mas a fonte está cada vez mais longe e o corpo começa a dar sinais de si. Arrisco-me a ser apanhado lá fora, desabrigado. E só ficarei, levado pelo dilúvio, rezando para que o meu abrigo, embora deficiente, se aguente.
Nas "Suladas" o dia seguinte era de renascimento, vinhamos para rua que estava juncada de detritos e íamos ver os estragos. O Sol subia e aquecia aquela terra dando-lhe nova vida. As brincadeiras continuavam como se nunca tivessem sido interrompidas.
Hoje as brincadeiras já são a sério, usando uma expressão beirense são á "varda" (1), são a doer. Passando para o lado de lá da tempestade fica só a incógnita do futuro onde a única certeza é ficar sem berlindes para jogar. 
Já não se espera, já nada interessa, ali ficamos, na escuridão ou na luz, já não interessa.
Já nem lágrimas existem para lavar a alma.




(1) Na Beira, Moçambique, durante a minha juventude quando jogávamos ao berlinde nas variantes 3 covinhas, 1cova ou á parede o jogo podia ser "á varda" que significava que quem perdia entrgava o berlinde e se queria continuar tinha de ter outro para entrar em jogo ou sem ser "á varda" que era jogo normal, na brinca. Equivalente á expressão de jogar "ao rapa". 

terça-feira, 29 de janeiro de 2013

Estado de Alma

Estou aqui sentado, pensando, ouvindo música e apreciando cada nota embora nunca as conseguirei descrever, apenas a ouvir música e pensando.
Penso nos acontecimentos recentes, o choque e a dor que subitamente caiu sobre a nossa família, a nossa família em geral e a minha em particular. Começo a arrumar a casa das recordações, a vida tem de continuar mas o medo instalou-se, a segurança diluiu-se, tornei-me avarento dos meus.

Tenho passado as últimas semanas a sonhar no pouco que durmo, sonho com a minha perda. Ela apenas está lá e eu apenas tenho consciência da sua presença e da dor surda que me mutila. As lágrimas começam a secar mas a alma está muito ferida começa o corpo a ressentir-se.

Não comparo a minha dor com a dos meus filhos embora eu sofra como pai também, como avô, como irmão, como filho. E as circunstâncias obrigam-me a suportar isto tudo sem um abraço, sem um aconchego, fechado numa cela tentando entreter o meu espírito divergindo-o para outras tarefas, tentativa vã pois o pensamento escorre sempre para a imagem da minha perda.

Tenho o meu espírito num turbilhão, não consigo orientar as minhas ideias, as minhas capacidades diluem-se num rio de dor. E ando á volta, rodopiando sem fim.

Apenas sei que tenho de pôr uma perna á frente da outra para mais um passo dar. Passos esses que podem assegurar uma certa segurança aos meus, á aqueles de quem eu me tornei avarento, á aqueles que eu já não quero deixar uma festa, um mimo para o dia seguinte, esse dia poderá nunca chegar, ganhei consciência e terror desse facto.

E as lágrimas continuam a correr... meus filhos deixem toda a vossa dor comigo e continuem em frente ainda têm um lindo projecto em mãos, ainda têm a esperança da renovação. Sigam a vossa vida e deixem-me aqui sossegado, ouvindo música e carregando a dor de uma perda que a todos nós afectou.



Bordo, 27 de Janeiro de 2013

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Dorme dorme gaivotinha...

 

Perdemos a nossa gaivotinha
não tenho palavras para chorar
apenas um rio de lágrimas
amargas de tanta dor

tanta vida, tanta esperança
num ápice se apagou
sorriso lindo e inocente
que a morte levou

sobra a saudade, a dor
da eternidade

querida gaivotinha
dorme, dorme
que o papão foi-se embora
dorme em paz
que a gaivota olha por ti



Jimmy Duarte Silva a 13 de Janeiro de 2013