segunda-feira, 30 de maio de 2011

Extractos IV


Tenho dez minutos, vou-me deitar para relaxar… tem-me sabido bem….

Sozinho, triste e abandonado, aqui no meu camarote dou azo a toda a minha loucura. Sento-me e fico a olhar as estrelas que existem na noite escura da minha imaginação. Estrelas que brilham com a intensidade das minhas paixões. Toda a minha vida é uma paixão. Sinto falta dela, esmoreço e caio para o lado adormecido, inerte, sem vida. Preciso do fogo, preciso das chamas que abrasam uma vida mas que põem o universo a rodar. Leio cartas antigas e sopro as brasas restantes ansiando para que a fogueira volte a atear, dá um bafo e morre. Tenho de ir a correr ao mato, tenho que apanhar mais lenha, tenho que fazer outra pira e imolar todas as minhas ânsias num novo fogo renovador.
Sinto o brilho eterno, quente da minha estrela da manhã, brilha no firmamento, minha Vénus. Sempre que tenho frio deixo-me iluminar pela sua luz e aqueço o meu coração. Um calor doce e já não me sinto só, nem triste nem abandonado, sinto-me alguém com a energia suficiente para dar mais um passo em direcção ás constelações que lá em cima esperam, ansiosas para que eu lhes conte histórias, e lhes traga um sorriso, ou talvez alguns risos. É fácil voar no etéreo, apenas se solta a imaginação e voamos, por todo o universo, por toda a vida mas se decidirmos mergulhar no oceano e voar na água escura e viscosa da vida ficamos velhos, cansamo-nos, consome-nos as energias e só o Sol nos consegue aquecer o coração, o suficiente para conseguirmos, tal como o peixe voador, saltar para o ar e voar fugindo da realidade assassina que nos persegue em forma de peixe voraz. Minha Vénus, meu Sol, só de pensar em vocês as lágrimas escorrem, salgadas como a vida. Abro uma janela e vejo a Vénus e o Sol a sorrir para mim. Tão perto e tão longe. Quero o calor da minha paixão, quero viver, quero morrer vivendo do que morrer vegetando, imitando os outros vegetais, simples batatas que com um simples pedaço de calor cozem e esmagam-se com o seu próprio peso. Calor…. Dava tudo para sentir o calor do seu hálito, o calor do seu pescoço, encostar-me a ele e adormecer, feliz. Estou só, estou triste mas não estou abandonado, lá em cima Vénus olha por mim, o seu sorriso ilumina a minha alma e dá-me o calor suficiente para voar ao seu encontro.
….
Estou de olhos fechados e a mente discorre livre, não vejo nada, apenas carrosséis de imagens rodopiando, não consigo fixar nada e abro os olhos, estou no mesmo sítio e apenas se passaram meia dúzia de segundos mas toda uma vida rodopiou á minha frente. Cada vez que fecho os olhos uma nova vida rodopia. Já não sei o que é vida, a realidade cada vez é mais fugaz. Vivo e estou morto ou estarei morto e isto não passa de um último carrossel, o ultimo bilhete. Começo a estar cansado, enjoado de tanta volta. Quero parar e vomitar todo o fel acumulado, quero parar no carro do algodão doce, uma bola fofa e doce como a vida. E sair do circo, não suporto os palhaços, os trapezistas, são sempre os mesmos a fazer malabarismos mas sempre com a rede, não arriscam nada, os domadores são mais perigosos que as feras, a música é insuportável e os cavalos a fazer os seus números cretinos de andar ás voltas e fingir uma dignidade estúpida que só um cavalo é capaz de o fazer. Detesto o circo, tenho que assistir ao espectáculo todos os dias, tento ser apenas um espectador, indiferente e frio mas a miséria é tão grande que ás vezes é difícil não esboçar um bocejo de enfado.
….
Mais um dia que passou… vou-me deitar, de lágrimas nos olhos, estou triste, uma tristeza imensa me invadiu, apenas mais um carrossel só que desta vez foi o carrossel das asneiras… vou-me deitar, estou triste e sinto-me só… Vénus, brilha para mim….


Jimmy, a bordo do M/T Genmar Phoenix em 2006

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Nobita escreveu: