domingo, 2 de maio de 2010

O fantasma

Dormia placidamente com os meus fantasmas, sono irrequieto e cheio de dor, morte e angústia. Foi nos meus sonhos que aprendi que a angustia dói mais do que a própria morte, foi uma dor noites sem fim. Quando acordei com um som, barulho já conhecido de tantas noites, o meu filho dirigia-se para a minha cama para se deitar entre os pais, sentindo aquela segurança que só uma criança sente quando dorme no meio dos seus pais.
E esperei que o miúdo subisse á cama, foi em vão, ele não aparecia. Estremunhado levantei-me e olhei, no meio da escuridão iluminada pelo luar que entrava pela janela. Aos pés da cama estava um vulto de uma criança de cabeça baixa, dormindo de pé completamente imóvel. Ensonado cheguei-me ao fundo da cama e estendi-lhe a mão para o puxar…
E o mundo estoirou… a criança levanta a cabeça e não era o meu filho, era um vulto que cresceu desmesuradamente, a fácies sorrindo, um sorriso numa cara branca cinza, os olhos de um negro profundo e um esgar trocista enquanto crescia até ao canto superior da sala… o mundo estourou na minha cabeça e imediatamente ataquei o intruso que se esfumou á minha frente sempre sem deixar de sorrir um esgar de morte enquanto eu escoiceava o ar com murros inúteis.
Parado, de joelhos na cama arfava, coração quase a explodir, de punhos cerrados ainda gemia de terror e combate. Olhava em redor, procurava o meu inimigo, corri para o quarto dos meus filhos e ambos dormiam o sono de criança.
Deitei-me, estava tudo bem e …. passei o resto da noite a ver o sorriso trocista da morte, ainda hoje vejo esse sorriso que brinca comigo tal como uma criança travessa…

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Nobita escreveu: