quinta-feira, 9 de abril de 2015

Afogamento

Gosto da figura do afogar, gosto pelo seu significado. Afogar é estar rodeado por água, estar envolvido por água, saturado. Eu afogo-me no turbilhão dos meus pensamentos que tal como água fluem incessantemente, são salgados e fazem arder os olhos.
Tal como um afogamento em que o afogado rende-se ao respirar a água e atingem o alívio máximo, teoria desenvolvida por alguns, eu quando me afogo não me rendo até á morte, envolvo-me no turbilhão, luto contra a corrente, espero até ao fim, anseio sempre pela libertação até acordar no outro lado onde a esperança não existe, onde o nada reina, onde as memórias são ténues, pequenos relâmpagos de sinapses meio carcomidas pelo tempo.
Gosto da figura do afogamento, especialmente quando estou afogado no meio das minhas emoções.

A certeza da negação, a certeza da impossibilidade faz-me baquear, faz-me sofrer, a mim que sou indestrutível, sou imortal, não compreendo o porquê ou apenas quero negar uma realidade tão bem conhecida, tão bem estruturada que só eu, tal como Quixote,  quer lutar contra a realidade, esses moinhos de vento gigantescos que rodopiam incessantemente criando os turbilhões que me assolam.

Escrevi uma vez que era difícil descrever uma flor, pior é a descrição de um espinho cravado na carne, especialmente quando o espinho é cravado pela flor que não consigo descrever.
Uma dor no peito, um gemido de angústia, estende-se a mão e não se alcança, a queda infindável nos abismos. Mas não se sente temor, apenas angústia, negra que no extremo só a dor para a ultrapassar.
Quero esquecer, maldigo o diga que tomei conhecimento, bendito o dia que conheci, sofro mas vivo mais um dia, morro menos um dia.
Não tenho paz, não me concentro, é a minha heroína, injectada nos veios do meu espírito. Corre como fogo líquido tudo queimando, enche-me por todos os lados, afogo-me aspirando sofregamente.
Mais tarde, perdido, oiço música, embalando-me docemente noutros oceanos.

5 de Abril de 2015

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Nobita escreveu: