No banco do jardim, leio
a chuva cai morrinha e estúpida
livro empapado, palavras molhadas
o romance de uma vida
apaga-se, esvaindo-se numa poça
esfrego os olhos e leio, sôfrego,
o fim do romance de cordel está próximo
os ombros caem-me, está frio, tenho frio
alma gelada e cinzenta, suspiro
A dor afastada, um silencio cobre o meu espírito
o livro cai-me das mãos numa poça de lama
cabeça entre as mãos, sentado no banco
choro a minha morte.
Levanto-me trôpego
o pequeno grupo encolhe-se á volta da cova
recentemente aberta, terra fresca e a cheirar a húmus
cheia de vida, receptiva e voraz
aproximo-me e olho para a urna aberta
madeira tosca de caixote
o meu corpo inerte jaz lívido
gotas de chuva escorrem cara abaixo
como lágrimas que nunca derramei
chove
e eu choro a minha morte
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Nobita escreveu: