Um dia acordei e descobri. Tinha perdido a alegria. Ria-me de piadas mas logo a seguir, abria os olhos, e lá estava ela... a minha velha dor.
Ao longo dos anos essa velha companheira começou a minar-me o espírito levando-me muitas vezes ao desespero, essa dor que se imiscuiu na minha vida e que me leva á exaustão.
Hoje estou numa dessas fases, de desespero, de dor, de angústia. Hoje morro mais um pedaço, hoje desejo morrer mais um pouco. A dor que não me larga.
A vida entrou em ciclos, remoinhos autênticos que me prendem e me levam para as profundezas. Primo insistentemente a tecla escape e continuo nas mesmas páginas da teia da minha vida. Não consigo, não quero, não sei... essencialmente não consigo.
Não sei lutar, sei destruir e isso tem destruído muito da minha vida.
O ódio atroz que me assola, a vontade de esmagar crânios, de destruir a estupidez imensa que me rodeia perturba-me... não posso ser assim, tenho de me conter.
Olho á minha volta e não vejo nada, não vejo futuro. Vejo momentos que depressa caem numa modorra lenta e morna.
Olho para trás e vejo uma vida de angustias e lutas pírricas, vitórias e muitas derrotas mas continuo a ser eu e a minha velha companheira de vida, aquela que morrerá comigo, a puta da do que não me larga. E eu, louco, cedo aos seus encantos morrendo todos uns dias um pouco, cedendo até á nossa morte.
Uma caixa de Capoten, uma caixa de Unisedil, uma caixa de Clonix e ouvir "Who wants to live forever" resolvia a minha questão mas até nisso eu sou estúpido, sou teimoso. Puta de dor vais-me matar mas vou-te dar trabalho... e tudo por uma teimosia estúpida.
Nem a dormir tenho sossego... ah!ah!ah! se calhar até na morte não terei sossego, terei aquilo que a igreja chama de purgatório. Aliás o conceito de purgatório é muito pior do que o conceito inferno. No purgatório vive-se a falsa ilusão da redenção, da salvação e isso não virá nunca e nós pobres almas iludidas vamos atrás de uma cenoura celeste a eternidade toda até que alguém olhe por nós e nos salve.
Como pode nos salvar sem destruir aquilo que somos? Só á custa de muito Prozac celestial ou mudar-nos a programação. Isso tudo só nos leva a um fim, á nossa morte real pois deixamos de sermos nós, a nossa identidade acabou-se, morreu e isso é estúpido.
Passar uma vida de sofrimento, uma eternidade num purgatório para alguém nos obliterar pois funcionamos mal? É estúpido ou então não funcionamos mal, apenas não temos os mesmos padrões, não pertencemos a esta realidade, a esta dimensão.
Ainda não escrevi meia dúzia de parágrafos e já estou a discutir com o criador... não tenho cura mesmo. Afinal o purgatório começa na terra, nesta vida.
Vou voltar á minha realidade, á minha vontade de dar um tiro na cabeça, e ir vivendo o meu dia a dia com a minha dor pois ela não terá fim.
O que vale é que ás vezes aparecem umas boas piadas que me fazem rir... mas são tão efémeras.
Tenho os olhos a arder, dói-me o peito, estou triste... suspiro e vou viver mais um dia.
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Nobita escreveu: